O que é a America First Trade Policy e quais são os impactos para o Brasil?

No dia 20 de janeiro, a Casa Branca publicou a America First Trade Policy, documento que define as novas diretrizes comerciais dos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump. A nova política dos Estados Unidos busca promover investimentos, produtividade e segurança nacional, trazendo possíveis impactos para seus parceiros comerciais, incluindo o Brasil.
Saiba o que essa nova diretriz aborda e quais são os possíveis impactos que ela pode trazer para o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.
O que é o "America First Trade Policy"
A America First Trade Policy é uma estratégia comercial adotada pelos Estados Unidos com o objetivo de priorizar os interesses econômicos americanos, buscando reduzir déficits comerciais e fortalecer a indústria doméstica.
O documento estabelece diretrizes do Presidente Trump para elaboração e implementação da nova política comercial do país pelos órgãos competentes, dentre eles os Departamentos de Comércio e Tesouro e o USTR (Representante de Comércio dos Estados Unidos).
De acordo com o documento, tais órgãos deverão elaborar análises, consultas públicas e propor ações, até abril de 2025, para implementar medidas para reduzir o déficit comercial dos EUA, combater práticas comerciais desleais e revisar/negociar novos acordos comerciais, dentre outros, podendo afetar países com fortes laços comerciais, como o Brasil.
A política visa implementar promessas que marcaram a campanha presidencial de Donald Trump, como o aumento de tarifas de importação. No primeiro mandato de Trump, em 2017, algumas ações concretas na área comercial foram a saída dos EUA da Parceria Transpacífica (TPP) e a renegociação do NAFTA, que resultou no atual USMCA (do inglês United States-Mexico-Canada Agreement). Além disso, houve a revisão dos instrumentos de defesa comercial e a imposição de tarifas de importação em alguns setores, como ferro e aço.
O que pode mudar para o Brasil
A America First Trade Policy está estruturada em três seções principais, que abordam desde o combate ao comércio desequilibrado até questões de segurança econômica. Veja quais são as principais medidas e como cada uma pode impactar o Brasil:
Medidas para o comércio injusto e desequilibrado
Essa seção estabelece 11 diretrizes para reduzir o déficit comercial dos EUA e combater práticas comerciais consideradas desleais. As ações incluem investigações sobre déficits persistentes, identificação de práticas desleais e renegociação/novas negociações de acordos comerciais.
O Brasil registrou um déficit comercial de US$ 100,6 bilhões nos últimos dez anos com os EUA, sendo US$ 5,3 bilhões em 2023. Embora tenha havido uma redução recente nesse déficit, o Brasil segue como um dos principais parceiros com saldo positivo para os Estados Unidos.
Caso os EUA adotem medidas setoriais para reduzir seu déficit, setores específicos da economia brasileira podem ser afetados por restrições tarifárias ou barreiras comerciais.
Outro ponto citado na primeira seção é a revisão do USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá), que pode afetar empresas brasileiras que investiram no México para acessar o mercado norte-americano. Trump já anunciou o aumento de tarifas sobre importações do México e do Canadá, mas sua aplicação foi suspensa por 1 mês (fevereiro) com a intensificação de ações nas fronteiras. Caso impostas, as tarifas podem impactar cadeias produtivas regionais e aumentar custos operacionais para empresas brasileiras no México e no Canadá.
Os EUA também pretendem identificar parceiros para renegociar ou negociar novos acordos bilaterais e/ou setoriais. Atualmente, Brasil e EUA mantêm o ATEC (Agreement on Trade and Economic Cooperation), assinado em 2011 e expandido em 2020, acordo bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos que visa facilitar o comércio e o investimento entre os dois países. A possibilidade de uma ampliação do ATEC ou de um novo acordo comercial pode abrir oportunidades para setores brasileiros, especialmente na indústria e tecnologia.
Relações econômicas e comerciais com a China
O governo norte-americano revisará sua política comercial com a China, incluindo investigações sobre práticas discriminatórias e transferência de tecnologia. Como parte dessa estratégia, será reavaliado o Acordo Econômico e Comercial entre EUA e China, negociado em 2020, que previa um aumento substancial das exportações norte-americanas para o mercado chinês.
Caso essa negociação avance, o aumento do comércio EUA-China pode afetar negativamente o Brasil, que compete diretamente com os EUA em commodities como soja, carne bovina e petróleo. Se a China ampliar suas compras de produtos norte-americanos para cumprir novos compromissos comerciais, a participação brasileira nesse mercado pode ser reduzida, impactando as exportações brasileiras.
Outras medidas
Os EUA planejam fortalecer seus mecanismos de defesa comercial, incluindo novas regras antidumping e medidas contra subsídios transnacionais. A America First Trade Policy propõe revisões em diversas áreas ligadas à segurança econômica, o que pode impactar diretamente as exportações brasileiras.
Entre as ações previstas, está a revisão da base industrial dos EUA para identificar setores cuja dependência de importações pode representar um risco à segurança nacional. Produtos como aço e alumínio, que já foram alvos de tarifas adicionais e quotas anteriormente, podem ser novamente afetados, o que traria desafios para exportadores brasileiros desses setores.
Dependendo dos resultados dessas investigações, produtos brasileiros podem enfrentar novas barreiras tarifárias ou cotas de exportação, aumentando a incerteza para as empresas nacionais que dependem do mercado norte-americano.
O que esperar para o futuro?
A America First Trade Policy indica um endurecimento das medidas comerciais dos EUA, podendo resultar em tarifas adicionais, renegociação de acordos e um novo ambiente regulatório para as exportações brasileiras.
Para as empresas brasileiras que dependem do mercado norte-americano, o momento exige monitoramento constante das decisões e estratégias de adaptação, buscando alternativas para mitigar impactos e explorar novas oportunidades de cooperação econômica entre Brasil e EUA.
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